Nos dias atuais, tornou-se comum ver muitos cristãos que
por causa do medo passaram a defender leis rigorosas e até a
pena de morte. São cristão que sentem medo dos pobres e os
identificam como se fossem inimigos perigosos. Grande parte dessa representação é reforçada pela mídia, que faz alarde da violência e busca como resposta a
punição. Sua moral não consegue ultrapassar o limite da pena. Esta é sua única
referência de justiça. Assim, qualquer ato de violência tido como crime, tem
como o seu autor o réu, o criminoso. Para mídia, só isso importa. Logo
fazer a justiça é prender o criminoso. Não importa a sua história, a sua
origem, a sua formação, o grau de instrução, a sua classe, a sua situação
econômica. Afinal, nada justifica a violência!
Nesse tempo de exclusões, a violência se generaliza e atinge a todos. O cristão, na ânsia de proteger a si mesmo e a sua família, incorpora a postura da mídia, defendendo a sua posição, exigindo mais repressão ao crime, repressão que vai recair sobre os mais pobres. Mas isso não importa, pois o que vale é ter a proteção de Deus e cuidar dos seus. Assim tem agido alguns cristãos, que reproduzem a indiferença com os pobres e se
acreditam bons e justos porque dão a "Cesar o que é de Cesar". Com
amor próprio, eles se consideram dignos porque estudaram,
trabalharam e possuem dinheiro para reproduzir um estilo de vida de
"cristão abençoado", mas cheio de justificativas que alimentam o
egoísmo de não estenderem as mãos a ninguém. Num sentimento de orgulho próprio
acreditam que foram abençoados porque mudaram a si mesmos, deixando
de beber, de desperdiçar dinheiro, de levar uma vida cheia de pecados.
Foi a fé e o cuidado de si que os salvou. O problema é que eles nada
têm a dizer sobre os atos de amor em direção ao próximo, pelo
contrário, muitas vezes não conseguem perdoar, ajudam pouco ou nada e
ainda alegam falta de tempo.
Lamentável, mas parece que o crente foi anestesiado e se esqueceu dos
dois mandamentos de Jesus, que poderiam ser exclusivos, pois são sintéticos:
amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo.
Aliás,
chega a surpreender como atualmente tantas pessoas sabem de cor os versículos bíblicos! É impressionante como a palavra de
Deus está propagada neste país, ainda que tão deturpada!
O que está acontecendo?
Estamos perdendo a capacidade de amar? Não acreditamos mais no
Evangelho? Desconfiamos do poder de Deus? Vamos preferir a proteção dos
presídios e o ódio ao próximo? Vamos optar pela vingança no lugar da justiça?
Não podemos esquecer que quem vive na Graça de Deus
não sente medo, pois quem teme não é aperfeiçoado no amor de Deus. Afinal,
Deus não nos "concedeu espírito de
covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio." (2Timóteo 1:7)
Nossa missão é pregar libertação, anunciar o evangelho, trazer a paz que excede o entendimento, porque o SENHOR nos ungiu, "para pregar boas novas aos mansos; a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos." (Isaías 61:1)
O cristão não tem que se recolher de medo, mas precisa despertar para as desigualdades sociais reproduzidas nesta nação. As injustiças se multiplicam e com ela a violência. Precisamos trabalhar pela justiça social para fortalecer a democracia e não cairmos nas armadilhas de reclamar por mais a repressão. Logo, não basta tratar a questão como um problema da instabilidade dos relacionamentos
sociais ou do enfraquecimento da moral, tendo que considerar principalmente a
questão política da relação entre a produção social e a má distribuição da
riqueza. Portanto se há uma crise desta natureza, não será o Código
Penal que vai resolver isso, mas apenas atender o desejo de vingança da
mídia e das classes médias.
Então, que o cristão não seja
confundido na superficialidade da análise do fenômeno da violência, procurando seguir o
imediatismo, preferindo os atalhos da vida, se inclinando as medidas
rápidas para se livrar do desespero da perda e da morte. Que o cristão não perca
a sua fé, tentando se convencer com filosofias vãs, sem respaldo do
Evangelho, mas que lhes são dadas como evidências. Que o cristão não seja
frívolo, pois a palavra de Deus é profunda e larga, penetra juntas e medulas e
serve para discernir o bem do mal. Enfim, que o cristão
consiga reclamar menos e trabalhar mais, que saiba resistir ao mal
e tenha força para manifestar em sua vida os frutos do Espírito
Santo.
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